Cálcio na adolescência

20 de agosto de 2017

Cálcio na adolescência!

 

– Na adolescência: intenso crescimento e desenvolvimento, alteração da composição corporal, mudanças comportamentais e nas preferências alimentares. Portanto: alto risco nutricional, particularmente relacionado ao crescimento físico, a mineralização óssea e a ingestão insuficiente de cálcio. A puberdade destaca-se como período fundamental para a aquisição do conteúdo mineral ósseo. O desenvolvimento de um adequado pico de massa óssea na adolescência é fundamental para proteção contra fraturas na adolescência e osteopenia/osteoporose na vida adulta.

 

– A mineralização do tecido ósseo se estende da vida fetal até adulto jovem (21 e 25 anos). Adolescentes incorporam 40% de massa óssea e acumulam, até a fase tardia da adolescência, mais que 90% da massa óssea final.

– O incremento de massa óssea não é homogêneo nos diferentes sítios esqueléticos.

 

– Fatores genéticos responsáveis por variações ao redor 40 a 80% nas diferenças dos ganhos do pico de massa óssea. O crescimento físico sofre influência de fatores endógenos e exógenos: o ganho de massa óssea depende de fatores como sexo, etnia, níveis hormonais, peso, estatura, IMC, ingestão adequada de cálcio e de vitamina D, atividade física e sobrecarga mecânica.

 

– Dentro de níveis adequados e saudáveis de IMC na adolescência, há correlação positiva entre níveis de cálcio e a Densidade Mineral Óssea (DMO).

– Nos dois extremos quanto ao peso, veem-se alterações da DMO: crianças mais obesas têm mais fraturas, e em doenças que cursam com perda grave de peso, há diminuição da massa óssea. Adolescentes com obesidade grave (IMC>  percentil 99) apresentam redução de sua massa óssea em maior grau do que adolescentes com sobrepeso.

– A DMO de adolescentes eutróficos é crescente com a idade e maturação puberal.

 

– O exercício físico impõe forças externas que podem submeter o tecido ósseo à deformação elástica e/ou mecânica. A resposta adaptativa pode resultar em efeito osteogênico e anabólico. Assim, o exercício físico é reconhecido como um agente osteoprotetor, sobretudo no pico de incorporação da massa óssea.

 

– O pico de crescimento durante a puberdade é naturalmente um potente estímulo à massa óssea, cursando com aumento nos esteroides sexuais e fatores de crescimento (GH/IGF-1). Nesse momento biológico, a maior absorção do cálcio, associada à ingestão adequada do mineral e exercícios físicos regulares podem ser determinantes no armazenamento mineral ósseo. Intervenções relacionadas a exercícios físicos na infância podem acarretar incremento aumento anual definitivo de 0,6% a 1,7% na massa óssea.

 

– A ingestão dietética de cálcio relaciona-se a mineralização óssea (nível de evidência A).  A ingestão inadequada prejudica a retenção de cálcio pelo esqueleto, favorecendo a ocorrência de fraturas entre adolescentes.

– Além desse nutriente, deve haver um suprimento adequado de energia, proteína e outros minerais, como fósforo, magnésio, zinco, cobre e vitamina C. Para que ocorra um adequado nível de absorção intestinal de cálcio, a vitamina D apresenta papel essencial, seja na manutenção da integridade do esqueleto, assim como na homeostase do cálcio.

 

Na puberdade, recomenda-se oferta de 1300mg/dia de cálcio para adolescentes de ambos os sexos. É descrito que a absorção de cálcio por meninas afrodescendentes é mais eficiente do que a de adolescentes caucasianas, mesmo com ingestão de níveis menores de cálcio. Entretanto, a recomendação de ingestão é uniforme, independente da etnia.

– Com a recente preferência e aumento do acesso por alimentos ultraprocessados em detrimento a alimentos saudáveis, declínio geral da ingestão de laticínios e sua substituição por outros tipos de bebidas (refrigerantes e bebidas açucaradas e energéticas), houve piora no consumo do calcio e de outros micronutrientes, resultante de inadequação do consumo alimentar. Um estudo evidenciou que a ingestão atual de cálcio por adolescentes é menor que a recomendação em mais de 90% dos casos, sendo a média menor que a metade da recomendação (ao redor de 550 mg vs.recomendação de 1300 mg). A baixa ingestão de cálcio é pior em menor nível educacional parental e menor renda.

– Durante o Pico Máximo de Incremento do Conteúdo Mineral Ósseo, há retenção de  mais de 282mg/dia no sexo masculino e 212mg/dia no sexo feminino.

 

 

– Leite e seus derivados – queijos e iogurtes – são considerados boas fontes de cálcio, seja pela proporção desse mineral presente nesses alimentos, como pela sua biodisponibilidade. Outros alimentos podem complementar a oferta de cálcio como alguns vegetais verdes escuros, como a couve, e alguns peixes, como a sardinha e salmão, além de mariscos.

 

– Para os adolescentes que apresentam intolerância à lactose, deve-se recomendar leites sem lactose e consumir alimentos fortificados com cálcio, como os cereais, o leite de soja e tofu.

– Apenas a avaliação da quantidade consumida de cálcio não é suficiente, quando se deseja adequar nutricionalmente uma dieta para otimizar a formação óssea. As fibras, o ácido oxálico e fítico presentes em alguns alimentos, se ligam ao cálcio reduzindo sua absorção. Como exemplo desses alimentos, cita-se o espinafre, rico em ácido oxálico, e produtos de grãos integrais e farelo de trigo, que possuem elevada concentração de ácido fítico. Essa interferência deixa de ser importante ou capaz de causar danos nutricionais, caso a haja consumo de alimentos variados.

– Outro ponto importante discutido é a associação do leite com outros alimentos e a redução na disponibilidade do cálcio. Um exemplo típico é a ingestão de leite integral ou desnatado com frutas e achocolatado.

 

– Adicionalmente é necessário investigar a interação do cálcio com outros nutrientes, como proteína, sódio, potássio e fósforo. A ingestão proteica elevada promove declínio da osteocalcina sérica, o que sugere uma redução concomitante no turnover ósseo, gerando importantes alterações na deposição óssea em adultos. Porém, a participação isolada da ingestão proteica sobre a mineralização óssea é difícil de ser avaliada. A alta ingestão proteica pode afetar a absorção intestinal de cálcio, todavia, dados da literatura são contraditórios.

– Em adultos, a ingestão de sódio é considerada um fator de risco para a perda urinária de cálcio, e para a reabsorção de cálcio ósseo.

– É ainda fundamental verificar a possibilidade de ocorrência de deficiência de vitamina D.

 

– Outro aspecto que merece destaque é a ingestão de refrigerantes. Essas bebidas, sobretudo produtos à base de cola, contêm altos níveis de cafeína, que podem aumentar a excreção de cálcio, porém isso ainda não é comprovado. Ainda a ingestão dessas bebidas pode contribuir para hiperfosfatemia.

A ingestão diária de fósforo, recomendada em adolescentes é 1250mg/dia. Refrigerantes contêm ácido fosfórico (colas) que tem concentração de fosfato de até 18mg/dL e, que é facilmente absorvido diante de níveis muitos baixos ou inexistentes de cálcio. E ainda, estudos indicam que o consumo de refrigerantes é inversamente proporcional à ingestão de bebidas lácteas.

 

As duas principais formas de suplementos são o carbonato e citrato de cálcio; outras formas incluem gluconato, lactato e fosfato de cálcio.

O carbonato é mais barato que o citrato, e deve ser consumido juntamente com a ingestão de alimentos para que seja melhor absorvido. Já o citrato, pode ser administrado em jejum ou juntamente com alimentação. Nas apresentações, o percentual representado pelo cálcio é de 40% do “peso” dos suplementos de carbonato e 21% dos suplementos de citrato. Sucos de fruta artificais enriquecidos em cálcio, geralmente contém citrato.

 

 

Fonte: Guia prático de Atualização da SBP – Como otimizar a ingestão de cálcio e o ganho de massa óssea em adolescentes.

 

 

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