Cuidados na alimentação na Alergia ao leite de vaca

15 de fevereiro de 2018

CUIDADOS NA ALIMENTAÇÃO NA ALERGIA AO LEITE DE VACA

 

  • O cenário mais comum na alergia ao leite de vaca é o do lactente que apresenta fezes com laivos de sangue. Alternativamente, a alergia a proteína do leite de vaca pode se manifestar com diarreia, refluxo gastroesofágico, esofagite eosinofilica, FPIES (síndrome da enteroparia induzida por proteínas alimentares), anafilaxia, e constipação (controverso).

 

  • A principal causa de refratariedade dos sintomas é a trangressão a dieta, e embora exista a prática de logo excluir outros alimentos, vale lembrar que a alergia alimentar múltipla é relativamente incomum.

 

  • Portanto, no caso de alergias aparentemente refratárias, é importante observar se não está havendo falha na dieta, sendo fundamental estar atento a presença não somente do leite e derivados propriamente ditos na dieta, mas também na presença dos seguintes ingredientes ou compostos (que tem proteínas do leite): soro de leite, whey protein, proteína láctea, lactato, lactose (pode conter traços proteicos), gordura anidra de leite, proteínas do soro, caseína hidrolisada, caseinato de amônia, caseinato de cálcio, caseinato de magnésio, caseinato de potássio, caseinato de sódio, lactoglobulina, fosfato de lactoalbumina, lactoalbumina, sabor ou aroma de manteiga, margarina, caramelo, baunilha, ghee (manteiga indiana), nougat,  chantilly (pode conter caisenato),  nata,   molho branco e outros que tenham leite ou  caseína, chocolate,  queijo, coco (pode ou conter traços), bebida láctea, leite de cabra, ovelha,  iogurte, proteína do leite hidrolisada, queijos em geral,  requeijão, coalhada, petit suisse, composto lácteo, manteiga, lactoferrina, margarina que contenha leite, leite condensado, leitelho, doce de leite, creme de leite.

 

 

  • Essas informações são detalhadas em linguagem acessível para leigos na Cartilha da Alergia Alimentar:  http://www4.planalto.gov.br/consea/publicacoes/seguranca-alimentar-e-nutricional/cartilha-da-alergia-alimentar/9-cartilha-da-alergia-alimentar.pdf
    ***  Essa Cartilha também contém orientações para leitura de rótulos e cuidados com outras alergias alimentares, além da alergia ao leite de vaca, como informações para alergia ao ovo, amendoim, oleaginosas, crustáceos e frutos do mar, soja…

 

  • No caso de lactentes com hematoquezia secundária a alergia ao leite de vaca e em aleitamento materno, pode ser bastante difícil para mãe realizar a dieta completamente isenta da proteína do leite de vaca. Para mães que habitualmente não realizam o preparo do alimento em casa, algumas vezes a fonte da contaminação de alimentos com leite de vaca é o alimento ingerido externamente, em lanchonetes e restaurantes, pois mesmo que não haja leite na comida que a nutriz ingere, em cozinhas com preparo de multiplos alimentos pode haver contaminação cruzada com a proteína através de fômites.

 

  • Lactentes que já estavam em uso de fórmula infantil ao diagnóstico devem idealmente ser transicionados para formula de proteína do leite extensamente hidrolisada. Existem trabalhos/autores que defendam a transição direta para fórmulas de aminoácido livre, mas essa não é a recomendação. A fórmula extensamente hidrolisada é benéfica em relação a de aminoácidos porque a primeira é menos osmolar, mais palatável, apresenta vantagens em relação a biodisponibilidade de alguns nutrientes, tem benefícios troficos sobre a mucosa intestinal, e ainda, apresenta menor custo.

 

  • De um modo geral lactentes que desenvolvem alergia mais precocemente, nos primeiros 4 meses de vida, o que é mais comum, aceitam mais facilmente a formula extensamente hidrolisada e/ou de aminoácidos do que lactentes que apresentam APLV mais tardiamente.

 

  • O uso de fórmula de soja nos casos de intolerância a formula extensamente hidrolisada ou de aminoácidos é reservado ao segundo semestre de vida.
  • Quanto ao uso da soja em lactentes: aumenta o teor proteico, de alumínio e manganês; presença de fitatos e glicopeptídeo da soja – menor teor de iodo; isoflavonas e fitoestrógenos têm potenciais efeitos na função neuroendócrina;  ha ainda menor biodisponibilidade de cálcio.
  • A Sociedade Brasileira de Pediatria oficialmente não recomenda a utilização de fórmulas de soja em crianças abaixo de 6 meses de idade (exceto em galactosemia)

 

  • Mais recentemente chegou ao mercado brasileiro formula extensamente hidrolisada de proteína do arroz. Há trabalhos europeus da segurança e tolerância da formula. Diferente do chamado “leite de arroz”, a mesma não tem problemas quanto ao conteúdo de arsênico. O laboratório advoga que essa fórmula é mais palatável do que as derivadas de proteína do leite de vaca, além de apresentar como interessante a proposta de que a proteina hidrolisada em questão não tem relação/ homologia com a proteína do leite de vaca.

(Dentre outras referencias, checar:  https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4134482/)

 

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