Diferenças do calandário vacinal público e privado no Brasil

19 de março de 2018

Diferenças do calandário vacinal público e privado no Brasil

– Calendário público segue as recomendações do PNI (Plano Nacional de Imunização), enquanto que na prática privada costuma-se seguir as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Mas além desses documento nacionais, existem recomendações de outros países que diferem das nossas, como por exemplo, as americanas (CDC – Center for Disease Control). Nesse texto, vamos principalmente comparar o calendário do PNI x da SBP, e tecer alguns comentários sobre essas recomendações.

 

O calendário do PNI de 2018 pode ser encontrado no link:

http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/vacinacao/calendario-nacional-de-vacinacao

Informações sobre o calendário da SBP, são explanadas em documento oficial dessa oraganização que podem ser encontradas no link (a versão é de 2017 – 2018 ainda não foi liberada):

http://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/19717g-DocCient-Calendario_Vacinacao_2017.pdf

Informações do CDC e da Academia Americana de Pediatria, são ilustradas e explanadas no seguinte documento (v2018):

https://www.cdc.gov/vaccines/schedules/downloads/child/0-18yrs-child-combined-schedule.pdf

Os países europeus não tem uma recomendação única. As recomendações dos diferentes países podem ser vistas e comparadas no seguinte link:

https://vaccine-schedule.ecdc.europa.eu

 

– DPT (difteria, pertussis/ coqueluche, e tétano): no PNI a vacina DTP é administrada como componente da pentavalente (DPT + Hib + HepB) aos 2, 4, e 6 meses; como DPT isoladamente aos 15 meses e 4-6 anos, e reforço com dT aos 14 anos (depois a cada 10 anos).

Pelo calendário da SBP: é realizada a vacina acelular (DTPa) substituindo a vacina de células inteiras. DTPa na rede privada está presente como componente das vacinas penta (DTPa+ Hib + IPV)* ou hexavalente ((DTPa+ Hib + IPV + HepB). A justificativa da recomendação do uso da vacina acelular é de que a eficácia é comparável, e vacina acelular menos reatogênica. Reforço é realizado com 15 meses, e com 4-6 anos

* Atentar-se ao fato de que pentavalente da rede privada (DTPa+ Hib + IPV) tem componentes  diferentes da pentavalente da rede pública (DPT + Hib + HepB).

– Poliomielite/ “paralisia infantil”: mudou no PNI em 2016: no esquema atual usa-se VIP (inativada, intramuscular) aos 2, 4, e 6 meses, VOP (oral, virus vivo) aos 15 meses, e aos 4 anos, e nas campanhas. A SBP recomenda realizar todo os esquema com vacina inativada – o que é realizado nos países desenvolvidos.

– Rotavírus: No PNI é realizada vacina monovalente aos 2 e aos 4 meses. Pela SBP é recomendada vacina pentavalente, aos 2, 4, e 6 meses. Portanto difere o número de cepas virais na vacina e o número de doses. Deve-se atentar ao limite das datas das doses:a primeira dose tem que ser realizada até 3 meses e 15 dias, e a última dose (2ª no PNI, 3ª pela SBP) até 7 meses e 29 dias – o que vale para os dois esquemas vacinais. No caso do esquema de 03 doses, deve-se ainda respeitar o intervalo mínimo para aplicação das doses de 04 semanas. Se necessário, podem ser realizados esquemas mistos.

– Pneumococo: PNI realiza vacina 10valente, enquanto SBP recomenda vacina 13valente.

Esquema atual do PNI (esquema reduzido): 2 e 4 meses, reforço entre aos 12 meses (pode ser realizado até 4 anos). O esquema reduzido (2 doses + 1 reforço) teve sua efetividade avaliada e comprovadamente similar ao esquema de 3 doses + 1 reforço tanto para 10valente quanto para 13valente, daí a alteração do esquema de doses no PNI.

Pela SBP, a vacina 13valente é realizada com esquema tradicional de 2, 4, e 6 meses, com reforço aos 2 meses. Pacientes que usaram pneumo10 do PNI se beneficiam de uma dose de pneumo13 após o primeiro ano de vida para ampliara proteção (o que é feito com muita frequência por pais que optam por realizar as primeiras vacinas no SUS e “complementar” com vacinas da rede privada) – crianças com esquema completo da vacina 10valente podem receber uma dose adicional de 13valente até os 5 anos de idade, visando proteção contra os sorotipos adicionais.

Crianças consideradas de risco aumentado para doença pneumocócica invasiva recebem ainda adicionalmente vacina polissacarídica 23valente pelo CRIE. A partir de 2 anos de idade

– Meningo C e ACWY: no PNI é realizada a vacinação com vacina meningocócica C conjugada, esquema básico com 2 doses, aos 3 e 5 meses, e reforço aos 12 meses (que pode ser feito até os 4 anos) e entre 12-13 anos de idade (esse reforço do adolescente foi alteração recente!)

A SBP, como o CDC e parte dos países da Europa, recomenda a vacinação com ACWY com 3, 5 e 7 meses, e reforços aos 12 meses, 5-6 anos, e a partir dos 11 anos. Deve-se ter atenção ao fato de que a vacina licenciada no primeiro ano de vida (a partir de 2 meses) é MenACWY-CRM: essa licença é recente, antes disso preconizava-se vacinar com a vacina conjugada meningo C no primeiro ano, e “complementar” com ACWY a partir de 12 meses – o que é uma possibilidade para esquemas mistos SUS + vacinas da rede privada. A MenACWY TT pode ser usada a partir de 1 ano.

– Vacina Meningo B: não é realizada pela rede pública. SBP indica a vacinação já no primeiro ano de vida: pelas recomendações desta sociedade, a vacina pode ser realizada a partir de 2 meses de idade, sendo sugerido diferentes esquemas conforme a idade de inicio – pelo calendário da SBP 3 doses + 1 reforço: 3, 5, e 7 meses, e reforço a partir dos 12 meses. Alternativamente se esquema iniciado entre 6 e 11 meses: 02 doses com 02 meses de intervalo e mais uma dose no segundo ano de vida. Se esquema a partir de 1 ano de idade: 2 doses, intervalo de 2 meses se idade entre 1-10 anos, 1 mês se idade > 10 anos.

É importante observar que trata-se da vacina mais recente dentre todas as recomendadas pela SBP. Nos EUA, o CDC recomenda somente após os 10 anos de idade e para grupos de risco. Para aqueles não estão dentro do grupo de risco para doença meningocócica, mas que desejam receber a vacina, o CDC recomenda seu uso entre 16 e 23 anos de idade (preferencialmente entre 16 e 18 anos de idade). Nos EUA, existem 2 tipos da vacinas comercializadas por 02 diferentes laboratórios, enquanto no Brasil, até a presente data, somente um tipo está disponível.

Os pacientes considerados de risco para doença meningocócica do tipo B são: asplenia anatômica ou funcional, doença falciforme, imunodeficiências relacionadas ao complemento, uso de eculizumab, pacientes expostos em surtos de doença meningocócica do tipo B. Sabe-se que a vacina é eficaz como medida de bloqueio, em surtos, mas que a vacina não protege contra o status de carreador.

A vacina não é recomendada em diversos países europeus, como Bélgica, França, Alemanha, sendo recomendada em alguns outros com Itália e Reino Unido.

– Hepatite A: no PNI é realizada em dose única, aos 15 meses (antes realizada aos 12 meses, idade mudou por ajuste do calendário do PNI). Pode ser feira até 5 anos incompletos.

SBP recomenda 2 doses, aos 12 e 18 meses.

A justificativa da realização de 1 dose pelo PNI baseia-e no fato que 97% dos pacientes apresenta níveis protetores em longo prazo.

– Varicela: Pelo PNI, crianças recebem a vacina tríplice viral, para Sarampo-Cazumba-Rubéola, aos 12 meses, e uma dose de tetraviral (SCR+varicela) aos 15 meses – que pode ser realizada até 5 anos incompletos. Pela SBP, são recomendadas duas doses, a primeira pode ser na forma de tetraviral, ou as adminsitrações separadas de SCR e varicela, e a segunda dose deve ser feita preferencialmente com a tetraviral, aos 15 meses (intervalo mínimo de 3 meses da primeira dose).

A dose única de varicela não é tão efetiva quanto a dose única de Hepatite A, mas a dose única reduz importantemente as formas graves (reduz em 80% as formas graves). É importante observar que pacientes que só foram vacinados com uma dose, devem realizar a segunda dose em caso de exposição direta e conhecida ao vírus.

Excepcionalmente, a vacina da varicela pode ser realizada entre 9-12 meses, se criança dessa faixa etária for exposta, porém, essa vacina realizada não conta como dose efetiva: se realização de vacina pelo PNI, criança recebe outra dose, se vacinação na rede privada, recebe outras 2 doses.

– HPV: Pelo PNI, realizada vacina quadrivalente em duas doses, em meninas de 9-14 anos, e meninos de 11-14 anos. Adolescentes com HIV, transplantados de medula óssea ou órgão sólidos, e pacientes oncológicos recebem 03 doses, entre 9-26 anos, independente do sexo.

SBP recomenda vacina quadrivalente,a partir dos 9 anos de idade, em 03 doses (0-6-12m).

Mais sobre a vacina de HPV em: https://novapediatria.com.br/vacina-de-hpv/

Vacina 9valente já foi licenciada nos EUA, mas ainda não no Brasil.

– Dengue: não incluída no PNI. Existe uma vacina pelo Instituto Butantã, na última fase de testes clínicos, que poderá vir a ser incluída no PNI e deverá abranger as idades de 2-59 anos.

SBP recomendou no plano de 2017 esquema de 03 doses de vacina de laboratório privado, recentemente licenciada, para crianças a partir de 9 anos de idade. Além de eficácia ruim para parte dos sorotipos, levantou-se a suspeita de que indivíduos vacinados que não haviam tido contato com o vírus apresentariam formas mais graves da doença – dessa forma houve necessidade de esclarecimento pela ANVISA e contraindicação, ao menos temporária, da vacina a indivíduos soronegativos para dengue.

(http://portal.anvisa.gov.br/noticias/-/asset_publisher/FXrpx9qY7FbU/content/vacina-dengue-esclarecimentos/219201)

 

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