Infecção pelo vírus da hepatite C na gestação – risco de transmissão para o RN/lactente

27 de julho de 2020

Infecção pelo vírus da hepatite C na gestação – risco de transmissão para o RN/lactente

 

  • O vírus da hepatite C é um vírus de RNA que agora é a principal causa de hepatite viral pediátrica crônica em todo o mundo, como conseqüência de programas de vacinação contra hepatite B em larga escala. Embora a via mais comum de aquisição do VHC em adultos seja o uso de drogas intravenosas, as crianças pequenas com VHC geralmente são infectadas por transmissão vertical.
  • Uma criança nascida de uma mãe com VHC tem 2% a 7% de chance de se infectar.  O genótipo viral não parece afetar as taxas de transmissão vertical (diferente da carga viral). A taxa de transmissão pode depender do nível de viremia da mãe, com níveis mais altos associados ao aumento das taxas de transmissão. Uma criança nascida de uma mãe com viremia aguda (e, portanto, uma carga viral maior) pode estar em maior risco do que uma criança nascida de uma mãe com VHC crônico. Embora os adultos com hepatite C aguda possam ter icterícia, os bebês que adquirem o VHC verticalmente geralmente são clinicamente assintomáticos e podem demonstrar apenas níveis elevados de transaminases.
  • Toda criança nascida de mãe portadora do vírus da hepatite C, ou seja, com HCV/RNA-PCR detectado, deverá realizar sorologia anti HCV entre os 12 e 18 meses de idade, pois a possibilidade de eliminação do anticorpo contra o vírus C (anti HCV), que passou da mãe para a criança por via transplacentária, pode ocorrer até 18 meses de vida. Se o anti HCV for negativo, acompanhar apenas na puericultura, descartando hepatite C. Se for positivo, solicitar HCV/RNA-PCR. Se o PCR for positivo, a criança é considerada portadora da infecção pelo vírus da hepatite C e deverá ser encaminhada ao serviço de atendimento especializado para acompanhamento compartilhado. Se o PCR for negativo, a criança é considerada não portadora do vírus da hepatite C e deve ser acompanhada, conforme a rotina de puericultura, pelo serviço de atenção básica.
  • Não existem atualmente métodos ou esquemas medicamentosos conhecidos para impedir a transmissão vertical do VHC.
  • Embora o conhecimento geral sobre o vírus da hepatite C (VHC) tenha aumentado drasticamente nos últimos anos, ainda não está claro exatamente quando ocorre a  transmissão vertical do VHC – intra-uterino vs. periparto.
  • O benefício do parto cesáreo na prevenção da transmissão viral ao recém-nascido não está comprovado. Consequentemente, não há recomendações sobre a via de parto para impedir a transmissão do VHC.
  • O único fator para o qual ha evidencias concretas da utilidade na prevenção da transmissão vertical do VHC é evitar o monitoramento do eletrodo do couro cabeludo fetal. O eletrodo de escalpe fetal é um dispositivo de monitorização fetal, para avaliar o padrão de ritmo cardíaco fetal quando o controle externo não pode ser utilizado ou tem qualidade ruim.
  • Demonstrou-se que o leite materno produz ácidos graxos livres que destroem o envelope viral do VHC. Nenhuma evidência clara existe para sugerir que o VHC possa ser transmitido pela amamentação. Tanto os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) quanto a Associação Americana para o Estudo de Doenças do Fígado (AASLD) declararam que as mães infectadas pelo HCV podem amamentar com segurança, desde que não tenham mamilos rachados ou sangrando.

 

  • A co-infecção materna com o HIV aumenta o risco de transmissão vertical em pelo menos duas vezes. A ruptura prolongada das membranas e o uso do monitoramento de eletrodos no couro cabeludo fetal também podem aumentar as taxas de transmissão vertical. Em um estudo de coorte de 244 crianças nascidas de mães HIV-positivas, a análise multivariada demonstrou que a ruptura prolongada das membranas (> 6 horas) e o uso do monitoramento do couro cabeludo fetal estavam associados a um risco aumentado de transmissão do HCV.
  • O papel dos novos agentes terapêuticos contra o VHC na prevenção da transmissão vertical ainda não é conhecido. Agora é comum que as mães com viremia da hepatite B durante o terceiro trimestre recebam terapia antiviral para reduzir o risco de transmissão perinatal da hepatite B; no entanto, ainda não existem regimes para os antivirais de ação direta que estão sendo usados no tratamento da hepatite C durante a gestação.

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Referencias

  • Cottrell EB, Chou R, Wasson N, Rahman B, Guise JM. Reducing risk for mother-to-infant transmission of hepatitis C virus: a systematic review for the U.S. Preventive Services Task Force. Ann Intern Med. 2013;158(2):109-113. doi: 10.7326/0003-4819-158-2-201301150-00575
  • Indolfi G, Bartolini E, Serranti D, Azzari C, Resti M. Hepatitis C in children co-infected with human immunodeficiency virus. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2015;61(4):393-399. doi: 10.1097/MPG.0000000000000895
  • Mast EE, Hwang LY, Seto DS, et al. Risk factors for perinatal transmission of hepatitis C virus (HCV) and the natural history of HCV infection acquired in infancy. J Infect Dis. 2005;192(11):1880-1889. doi: 10.1086/497701
  • Pfaender S, Heyden J, Friesland M, et al. Inactivation of hepatitis C virus infectivity by human breast milk. J Infect Dis. 2013;208(12):1943-1952. doi: 10.1093/infdis/jit519
  • Wen JW, Haber BA. Maternal-fetal transmission of hepatitis C infection: what is so special about babies? J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2014;58(3):278-282. doi: 10.1097/MPG.0000000000000258

 

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