Seletividade alimentar: “picky eaters”

22 de fevereiro de 2018

Seletividade alimentar: “picky eaters” 

 

  • Como mencionado outros textos as dificuldades alimentares são altamente prevalentes na infância. Apesar da frequente queixa parental, a minoria dos pacientes apresenta de fato uma alimentação problemática. 
  • Naturalmente, o percentual de pais que apresenta queixas no grupo da crianças com alimentação problemática é maior do que na população geral infantil: recente trabalho registrou, quanto ao comportamento alimentar de crianças com 2 a 3 anos de idade, 49% de queixa de consumo de pouca variedade de alimentos em crianças altamente seletivas x 18% da mesma queixa no grupo da população geral infantil, e respectivamente 39% x 13% quanto a queixa de preferir alimentos líquidos, 23% x 6% da queixa de comer devagar, 18% x 5% da queixa de ausência de interesse nos alimentos e de evitar alimentos, e 4 x 1% da queixa de não comer alimentos sólidos. 

 

  • Outro estudo, americano, mostrou que “picky eaters” tem significante consumo menor de frutas, vegetais, e fibras, com maior risco nutricional para baixo consumo de vitaminas E e C. 

 

  • É fundamental diferenciar a seletividade real x uma tentativa de controle pela criança: ambas as coisas ocorrem mais comumente entre 01 e 03 anos. Na tentativa de controle, ocorrem mudanças frequentes das preferências alimentares, que podem acontecer até tão rapidamente quanto de uma refeição para outra; evolui para “luta de poder” entre pais e criança

 

  • Quando se fala em postura neutra dos pais é em relação a não comemorar o consumo de alimentos!

 

  • É fundamental repetir exposições: pelo menos 5 a 10 exposições, respeitando preferências, evitando desconfortos, sem oferecer recompensas (agravam a seletividade).

 

  • A refeição deve ser feita em família, a criança de 01 a 03 anos deve ter pratos e talheres próprios, aversões devem ser respeitadas, postura familiar deve ser neutra, com oportunidade a novos alimentos 

 

  • Evolução desejável é que diante de alguns alimentos não tolerados, sejam realizados orientação e modelagem com respeito, e que assim atinja-se um controle da seletividade. Porém, a evolução comum é que diante da não tolerância de alimentos, haja pressão para aceitação destes, criança desenvolva mais receio de ser forçado a comer, o que agrava a seletividade. 

 

  • Manejo deve incluir espaçar alimentações em 3-4 horas, não manter criança na mesa durante  mais que 20-30 minutos/vez, não apenas alimentar a criança – alimentar-se com a criança, não permitir uso de eletrônicos durante as refeições. Outra estratégia é tornar a comida atraente, por exemplo, dar nomes: “maçã da princesa”, “macarrão magico”

 

  • Manejo inadequado pode levar a consequências psicossociais, com prejuízo ao relacionamento e dinâmica familiar que podem gerar outros danos – negatividade, insegurança, somatizações, dificuldade de adaptação social. 

 

  • Modelagem entre 01 e 03 anos: crianças tem elevado interesse pelo que os pais comem => novos alimentos colocados apenas no prato dos pais exercem grande atração; também copiam crianças mais velhas. Após os 03 anos: influencia mais marcante é a de colegas. 
  • É importante observar que dar oportunidade para alimentos novos é diferente de oferecer alimentos alimentos novos.  Criança quer comer o que os pais querem comer.. não demonstrar excitação se criança pede para comer o alimento que rejeitava.. “make it hot” – falar que é comida de adulto, que vai dar apenas um pouco

 

  • Experiências negativas podem ser disparadoras de seletividade, mais comumente náuseas, vômitos, engasgos. Experiência ruim tende a ser expandida para alimentos parecidos, para alimentos do mesmo grupo, para alimentos da mesma cor / cheiro/ textura.

 

  • Na introdução da alimentação complementar, pais não devem ter pressa, devem respeitar preferências, não forçar, demorar para oferecer novamente alimentos com rejeição inicial muito acentuada, mas compreender que texturas macias tem elevada frequência de rejeição. Se criança rejeitar muito texturas macias, pôde-se tentar passar direto para alimentos sólidos que a própria criança possa manipular – encorajando alimentação independente desde que com segurança. 

 

  • Criança seletiva pode ter dificuldades sensoriais adicionais, por exemplo, com mãos lambuzadas, restos de comida na boca ou corpo, andar na grama ou areia, tecidos específico, etiquetas de roupas, cheiros, barulhos. Deve-se estar atento a ocorrencia desses gatilhos e ativamente evita-los/ ajudar a criança a evitar. 

 

  • A neofobia é comum na seletividade: recusa a provar novos alimentos (que pode se estender a novas atividades). Em até 75-80% dos casos, essa característica também pode estar presente nos pais. Faz parte de um perfil de evitar danos, e de medo acentuado de realizar novas experiências.

 

  • Crianças altamente seletivas podem ser “superdegustadoras”, tem maior número de papilas gustativas na lingua, resistem a vegetais crucíferos (espinafre, brócolis), podem resistir também a alimentos gordurosos (leite integral, queijos processados), e apresentar alta capacidade discriminativa de sabores e texturas. 

 

  • Dessensibilização no escolar pode ser com estímulos de adjetivos, exemplo: pontos de coragem. Cada vez que prova nova comida: 1 ponto de coragem. Prêmio quando 50 pontos. Não se deve recompensar um consumo isolado de um alimentos, mas a estratégia de recompensar o progresso em medio/longo prazo essa sim é válida.

 

  • Transtorno de alimentação pôs traumático é um dos mais graves e de difícil manejo. Após um episódio de engasgo ou vomito que é traumático para criança. Pode ser bastante situacional: exemplo medo de beber na garrafa. Tratamento com dessensibilização gradual.

 


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