Vegetarianismo

31 de julho de 2017

 

–  O Vegetariano exclui de sua alimentação todos os tipos de carne, aves e peixes, podendo ou não utilizar laticínios ou ovos. O Vegano não utiliza qualquer alimento derivado de animal na sua alimentação. Estima-se que até 10% da população brasileira com mais de 18 anos seja vegetariana.

 

– Uma dieta vegetariana bem balanceada é capaz de promover crescimento e desenvolvimento adequados. Demanda porém monitorização, e muitas vezes suplementação quanto à deficiência de nutrientes especificos.

 

– As dietas vegetarianas geralmente fornecem menores quantidades energéticas e proporção de gorduras saturadas, maior teor de fibras. Entretanto, o não consumo de alimentos de origem animal e laticínios podem contribuir para menor ingestão de ferro, vitamina B12, cálcio e zinco; além de muitas vezes ainda que estes estejam presentes em quantidades adequadas, podem apresentar menor biodisponibilidade.

 

– A utilização de alimentos de maior densidade calórica, como produtos à base de castanhas e amendoim, em casos infrequentes, pode contribuir para a maior ingestão calórica.

 

– As maiores fontes de proteínas vegetais são as leguminosas (lentilha, feijões, grão de bico e soja), cereais, nozes e sementes. Para oferta adequada de aminoácidos essenciais é fundamental o consumo variado destes alimentos. A oferta monótona resulta em deficiência de macro- e micronutrientes.

 

– O consumo de gordura deve variar de 25- 35% da oferta calórica total. O consumo insuficiente de gorduras pode levar ao comprometimento do crescimento, consumo muito baixo pode ainda determinar deficiência de ácidos graxos essenciais. São alimentos ricos em ácidos graxos essenciais (omega-3 e 6): óleos de soja/ linhaça/ oliva/ canola, semente de linhaça /chia / girassol/ gergelim, milho, nozes, castanhas. A deficiência de AGE pode levar à dermatite, alteração na cicatrização, alopécia, trombocitopenia, alterações neurológicas e imunológicas. As gestantes e lactantes veganas devem consumir boas fontes de omega–3, pois o leite materno é uma importante fonte de DHA para o lactente, desde que este seja regularmente ingerido pela mãe.

 

– O consumo regular de alimentos ricos em fibras associa-se à redução do risco de obesidade, constipação, doenças cardiovasculares e câncer. Há controvérsia quanto ao consumo diário de fibras: 0,5 g/kg/dia, OU  idade (em anos) + 5, ou 14 g para cada 1000 Kcal. Porem, crianças veganas podem consumir até 3 vezes mais fibras que o recomendado, o que interfere com a absorção de minerais  e digestibilidade dos alimentos.

 

– A carência nutricional de ferro é a mais comum na criança vegetariana. A deficiência de ferro, mesmo na ausência de anemia está associada a alterações do desenvolvimento neuropsicomotor e comprometimento da função imunológica. É recomendável que a ingestão de ferro por estes pacientes seja 1,8 a 2 vezes maiores pelas crianças vegetarianas. O ferro está presente nas carnes vermelhas, aves e peixes em sua forma heme, e é altamente biodisponível. Nos vegetais, frutas e cereais possui biodisponibilidade bem menor, por estar presente na forma não heme. Os fitatos (nas leguminosas), fibras, cálcio e polifenois (chás) diminuem sua absorção, enquanto vitamina C aumenta. Deixar o feijão de molho por 12 horas e desprezar esta água para o cozimento diminui a concentração de fitato e aumenta a biodisponibilidade.

– A SBP recomenda a suplementação com ferro para todas as crianças com até 2 anos de idade (para RNT a partir de 3 meses, e para RNPT a partir de 1 mes), conforme peso de nascimento/ idade gestacional, independentemente da orientação alimentar.

(https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/21019f-Diretrizes_Consenso_sobre_anemia_ferropriva-ok.pdf)

Crianças que consomem 500 mL de formula láctea infantil enriquecida com ferro podem não realizar essa suplementação.

 

– O zinco é crucial para o crescimento e o desenvolvimento. Têm funções biológicas catalíticas, estruturais e regulatórias. O aleitamento materno exclusivo proporciona quantidades adequadas até o 6° mês de vida. São alimentos ricos em zinco: cereais, grãos integrais, soja, feijões e lentilha, porém com biodisponibilidade menor do que os alimentos de origem animal, devido à presença de fitatos e fibras. Assim, vegetarianos estritos precisam consumir até 50% mais zinco. São sinais de deficiência: retardo de crescimento, susceptibilidade a infecções, alopécia,diarreia, lesão ocular e cutânea, inapetência.

 

– O cálcio é o mineral mais abundante no organismo, estando 99% nos ossos e dentes. Participa de funções vasculares, neuromusculares, glandulares. Os vegetarianos estritos tendem a ingerir menos cálcio do que os lactovegetarianos e não vegetarianos, já que não consomem leite e derivados. Alguns vegetais como brócolis, couve, quiabo, nabo, soja e alimentos fortificados podem ser fontes de cálcio, em geral com pouca biodisponibilidade. Alimentos ricos em oxalato (espinafre, beterraba, batata doce e feijões) e os ricos em fitatos (sementes, grãos, nozes e isolados de soja, feijão) diminuem a absorção de cálcio, e os carboidratos e a vitamina C aumentam. A criança vegana que não consome alimentos com boa biodisponibilidade deste mineral, deve receber suplementação, preferencialmente entre as refeições. Na impossibilidade do aleitamento materno, fórmulas infantis à base de proteína hidrolisada de arroz ou de proteína isolada de soja (a partir do sexto mes) enriquecida com cálcio, são alternativas para veganos.

 

A deficiência de iodo não é comum em vegetarianos que consomem sal iodado.

 

– Frutas e vegetais amarelos escuros, ricos em betacaroteno como cenoura, manga, mamão, damasco, abóbora, tomate, ervilha e batata doce suprem os requerimentos diários se de vitamina A na dieta se houver o consumo variado destes alimentos. A utilização de óleo no preparo aumenta sua absorção, enquanto o cozimento prolongado e o congelamento podem levar a queda de até 50%. São manifestações da deficiência de vitamina A: cegueira noturna, hiperceratose folicular, inapetência, déficit de crescimento.

 

– A deficiência de vitamina B2 (riboflavina) manifesta-se com queilite angular, estomatite, glossite e dermatite seborreica, e pode ocorrer em dietas muito restritivas, mas é relativamente incomum no vegetarianismo na presença de dieta bem balanceada. , incluindo aspargo, banana, feijão, brócolis, figo, couve, ervilhas, tahine, batata doce, tofu, germe de trigo.

 

– Já a vitamina B12 está presente nas carnes bovinas, suínas, de aves, de peixes, nos ovos, nas vísceras, e em menor quantidade nos leites e derivados. Não está presente nos vegetais, exceto os fortificados. É essencial na formação da hemoglobina, dos dos glóbulos vermelhos, e da bainha de mielina. Se há consumo regular de ovos, leite e derivados, em geral há quantidades adequadas da vitamina. Porém, vegetarianos estritos apresentarão deficiência de B12, e o fato de consumirem quantidades maiores de alimentos ricos em ácido fólico pode mascarar as manifestações hematológicas. Sua dosagem e suplementação é recomendada. No caso do vegetarianismo a suplementação pode ser dada via oral.

 

– O ácido fólico é fundamental para divisão celular, síntese de purinas, formação  e maturação de glóbulos vermelhos e brancos. Sua deficiência pode determinar defeitos do fechamento do tubo neural, anemia megaloblástica, fraqueza, anorexia, cefaleia, perda de peso e irritabilidade. A dieta vegetariana normalmente fornece quantidades adequadas de ácido fólico, entretanto, quando o consumo é preferencialmente de vegetais fritos ou cozidos a altas temperaturas, e não há consumo de frutas ou cereais fortificados pode haver o risco de deficiência. São alimentos ricos em acido fólico: brócolis, espinafre, feijões, trigo e leveduras.

 

– A vitamina D é essencial para mineralização óssea adequada. Os níveis apropriados de vitamina D são dependentes da exposição solar regular e a ingestão de alimentos fortificados ou suplementos, porém quantidades inferiores a 10% são provenientes de fontes dietéticas. A principal manifestação de deficiência é o raquitismo, sendo os indivíduos com maior risco aqueles com ingestão de cálcio abaixo do recomendado e/ou que não se expõe regularmente ao sol. A SBP recomenda a suplementação de vitamina D para todas as crianças a partir da primeira semana de vida até completar 1 ano com 400 UI de vitamina D por dia, e após esta idade até os 2 anos com 600 UI/dia, além da exposição solar regular.

O documento da SBP apresenta doses profilatica e de tratamento, alem de apresentação de diferentes formulações disponiveis no mercado brasileiro

https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/2015/02/vitamina_d_dcnutrologia2014-2.pdf

 

 

FONTE: Vegetarianismo na infância e adolescência – Guia Prático de Atualização da SBP – Departamento Científico de Nutrologia. Julho, 2017

 

 

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